Você deve estar achando que esse blog só fala de futebol, não é? Dessa vez, vamos falar de um tema muito interessante: A Lei de Murphy. Antes de qualquer coisa, vamos entender o que significa essa coisa de lei. Estamos acostumados a esse termo no nosso dia-dia quando nos referimos a alguma lei que foi aprovado no congresso, na câmara dos vereadores, etc. Porém, em ciências, quando falamos em lei, estamos nos referindo a uma teoria que tem aceitação na comunidade científica.
Então você vai me perguntar: como esse processo acontece? De uma forma simplista, poderíamos dizer que através de observações são construídas hipóteses, ou até modelos empíricos, que depois de testadas logicamente e/ou através de determinadas experimentos podem tornar-se teorias ou leis.
O que acabo de fazer acima é descrever nada mais, nada menos, do que o método científico. É claro que o método científico não se resume a isso. Porém, uma explicação mais detalhada caberia a outro post.
Um exemplo que serve como excelente ilustração de como se constrói uma teoria/lei é a formulação da Teoria de Gravitação Universal de Isaac Newton, publicada em seu livro Philosophiae Naturalis Principia Mathematica em 1687. Poderíamos dizer que o desenvolvimento dessa teoria começa com as observações do astrônomo polonês Nicolau Copérnico. Os filósofos do século XV acreditavam no modelo geocêntrico que fora estruturado por Aristóteles e Ptolomeu. Esse sistema cosmológico afirmava que a Terra era esférica e estaria parada no centro do Universo enquanto os corpos celestes orbitavam em círculos concêntricos ao seu redor. Em 1537, Copérnico escreveu no seu livro De revolutionibus orbium coelestium (Das revolucões das esferas celestes") o que veio a ser conhecido como o modelo heliocêntrico. Esse sistema colocava o Sol como um centro fixo (muito perto do que ele considerava o centro do universo), e a Terra e outros planetas em órbitas circulares ao ser redor. As hipóteses de Copérnico foram recebidas com certo ceticismo pela comunidade científica, uma vez que esse modelo fora desenvolvido apenas com as observações a olho nu e nenhuma experiência teria sido realizada para a sua confirmação. Porém, anos mais tarde outro astrônomo, agora na Dinamarca, traria incrementos que dariam maior credibilidade às hipóteses de Copérnico. Tyco Brye, ainda sem telescópios, fez importantíssimas observações sobre o movimento da Lua, Marte e algumas estrelas. Esses dados foram essenciais para que em 1609, o alemão e também astrônomo Johannes Kepler formulasse modelos empíricas que hoje são conhecidas com as 3 leis de Kepler. Contemporâneo a Kepler, na Itália, o Físico, Matemático e Astrônomo (naquela época quase todos eram, bastavam olhar para o céu) Galileu Galilei fazia muito sucesso com hipóteses sobre o movimento dos astros e dos corpos em geral. Galileu rebatia as idéias de Aristóteles de que se a Terra se movesse todos os corpos em queda, pássaros, e nuvens ficariam para trás. Baseados nas observações de Copérnico, Galileu mostrou que a queda de um corpo sobre uma embarcação em movimento tinha uma trajetória retilínea para quem o observa-se no interior da embarcação e portanto, a queda de um corpo qualquer do alto de uma torre não ficaria para trás devido o movimento da Terra. Diferenciou-se dos demais cientistas citados anteriormente, por defender um método científico onde minunciosas experiências deveriam ser realizadas para a comprovação das teorias propostas. Sua riquíssima obra serviu como pilar para as teorias de Newton, que o levaria a publicação de sua mais importante obra em 1687.
Na teoria de gravitação universal, Newton é capaz de demonstrar o movimento dos corpos celestes e relacioná-los com o simples movimento da queda de uma maça (daí surge a famosa fábula de que teria descoberto a gravidade com a queda de um desses frutos em sua cabeça). Além disso, com sua teoria foi possível descobrir a existência de outros planetas do Sistema Solar, como Urano e Netuno e demonstrar as 3 leis empíricas de Kepler.
Mas “peraí”! O que a Lei de Murphy tem haver com isso? Ela também tem uma história semelhante a das Leis de Newton e Kepler?
Não! Tudo começou com por causa do engenheiro aeroespacial panamenho Edward A. Murphy. Em 1947, o então capitão da força aérea americana estava trabalhando no instituto de Tecnologia da Força Aérea dos Estados Unidos e acabou se envolvendo em experiências de alta velocidade. O objetivo era saber quais os efeitos causados nos pilotos que eram submetidos a acelerações (ou desacelerações) muito intensas. Para isso, Murphy desenvolveu um sistema que media os batimentos cardíacos e a respiração do piloto nesse tipo de situação. O aparelho foi instalado por um técnico, contudo, os sensores que deveriam registrar essas informações falharam exatamente na hora da experiência. Quando Murphy foi chamado para explicar o que tinha acontecido de errado, verificou que tratava-se de um erro na instalação e pronunciou a célebre frase: “Se este cara tem algum modo de cometer um erro, ele o fará”. Generalizando a afirmativa de Murphy surgiu a expressão: “Se existe mais de uma maneira de se executar uma tarefa, e alguma dessas maneiras resultarem num desastre, certamente será a maneira escolhida por alguém para executá-la.”
Obviamente, se testado segundo o método científico, essa hipótese não seria comprovada. Estatisticamente falando, se consideramos um espaço de possibilidades, é impossível que uma das opções (a catastrófica) tenha 100% de probabilidade de acontecer.
Entretanto, é muito comum dentro da comunidade científica que existam pesquisadores muito supersticiosos e que acabem atribuindo o insucesso de alguma experiência a fenômenos nada científicos. Para aqueles um pouco mais céticos, resta-lhes deixar que a culpa caia sobre as costas do técnico, ou do aluno de pós-graduação.
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